Relações Transnacionais da FRELIMO na Luta pela Independência
Este caso específico da pesquisa trata da cooperação transnacional da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) antes e durante a luta anticolonial entre os anos de 1962 e 1975. A ideia principal é investigar como - ao nível ideológico, organizacional e material - a sua posição na rede transnacional influenciou as suas decisões estratégicas no percurso da luta pela independência nacional. A investigação é relevante duma perspectiva teórica e prática pelas seguintes razões: Em primeiro lugar, a história da luta pela autodeterminação do povo de Moçambique foi muito pouco investigada na literatura de língua inglesa e alemã nos últimos anos. Ainda que se possam encontrar várias monografias dos primeiros anos da independência, os estudos estavam bastante ligados ao discurso ideológico desta época anticolonial e muitas vezes lhes faltavam fontes confiáveis. Além disso, era quase impossível investigar a história da luta anticolonial numa forma adequada. A razão é a guerra civil entre a FRELIMO e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) que durou mais de 20 anos. Também pode-se constatar um enfoque dos debates nas ciências sociais sobre este conflito da pós-independência e, então, uma negligência da luta anticolonial da FRELIMO.
Em segundo lugar, a FRELIMO e os movimentos dos outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) são os movimentos anticoloniais “mais novos” na África. Por isso ainda hoje é possível, acompanhado pela investigação nos arquivos, entrevistar antigos combatentes desta época. O projecto será acompanhado por estudos nos arquivos da Stasi (Ministério para a Segurança do Estado), polícia secreta da República Democrática Alemã em Berlim.
Por fim, até hoje movimentos anticoloniais foram geralmente analisados como movimentos exclusivamente nacionais. Só diante do contexto da Guerra Fria foram considerados “internacionais” como representantes dum lado ou doutro. Sem dúvida esta forma de análise é demais simples. Consequentemente pode-se identificar formas distintas da cooperação transnacional em vários níveis: Junto a organizações como o Conselho Mundial da Paz ou o Movimento Não Alinhado, referimos sobretudo às relações bi- e trilaterais com outros movimentos da libertação ou estados já independentes, muitas vezes numa forma informal e individual/ pessoal. A suposição principal é que os movimentos nacionais não somente lutavam contra administrações locais ou regionais, mas como um movimento da “dissidência global” contra o sistema colonial, entendido como uma forma de dominação internacional. Conforme esta proposta, aqueles movimentos devem uma parte notável do seu poder ideológico, organizacional e militar a esta mesma luta global.
Responsável: Daniel Kaiser